domingo, 16 de novembro de 2014

Eventos e Exposições

Os efeitos da migração na psique

por Flávia Dourado - publicado 11/11/2014 17:30 - última modificação 15/11/2014 09:51
Plinio Montagna - matéria
O psiquiatra e psicanalista Plinio Montagna
Os deslocamentos geográficos e as mudanças de contexto cultural associados aos movimentos de migração provocam transformações profundas na psique dos indivíduos que migram. O tema será explorado pelo psicanalista Plinio Montagna na conferência Alma Migrante, que o Grupo de Pesquisa Diálogos Interculturais do IEA realiza no dia 18 de novembro, às 17h30, na Sala de Eventos do Instituto.
As debatedoras do encontro serão as professoras Adriana Capuano de Oliveira, do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do ABC (UFABC), Sylvia Duarte Dantas, da área de psicologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do grupo, e Ligia Fonseca Ferreira, do Departamento de Letras da Unifesp. A coordenação geral está a cargo de Maura Pardini Bicudo Véras, do Departamento de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
A exposição de Montagna tratará da centralização e descentralização do sujeito frente aos trânsitos migratórios e se concentrará na interação entre aquilo que é interno e externo aos migrantes, com foco nas questões de identidade.
O psicanalista abordará, ainda, as tensões entre os conceitos de alma e de mente em Sigmund Freud. De acordo com Dantas, ao referir-se à abrangência e essência psíquica dos indivíduos, Freud fala em Seele, termo alemão para "alma". Contudo, como o autor não atribuía à palavra um sentido místico, na tradução de sua obra para o inglês seele foi substituído por mind, ou mente, "ofuscando e reduzindo seu sentido mais profundo".
PERFIL
Psiquiatra e psicanalista, Plinio Montagna fez graduação e mestrado na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), da qual foi docente, e especializou-se em Psiquiatria Social pelo Social Institute of Psychiatry da London University. Foi editor da Revista Brasileira de Psicanálise e presidente da Federação Brasileira de Psicanálise (FEBRAPSI) e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), da qual foi também diretor científico e onde atualmente é professor.

Alma Migrante
18 de novembro, às 17h30Sala de Eventos do IEA, Rua Praça do Relógio, 109, Bloco K, 5º andar, Cidade Universitária, São Paulo (localização)Evento gratuito e aberto ao público, sem necessidade de inscrição – Transmissão ao vivo pela webInformações: com Sandra Sedini, telefone (11) 3091-1678 ou e-mail sedini@usp.br
Ficha do evento: www.iea.usp.br/eventos/alma-migrante

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Notícias

Refugiados do Clima

Quem são e o que fazer por eles?

Carolina de Abreu Batista Claro
22/10/14

O documentário Sun come up retrata a difícil tentativa de uma comunidade, de cerca de 100 pessoas das Ilhas Carteret, na Papua Nova Guiné, de se mudar para ilhas próximas, na tentativa de sobreviver aos efeitos perversos que a mudança e variabilidade climáticas têm causado na sua vila. As negociações com outras comunidades são difíceis e muitas vezes infrutíferas, pois ocorrem num país que, além de ter que lidar com o avanço dos oceanos, também passou recentemente por uma violenta guerra civil.
O documentário de 2011 narra drama real de comunidades inteiras que vivem sob o medo de algo que, até então, era seu aliado: a natureza. Aumento no nível de água dos oceanos, tsunâmis, ciclones e mudanças no regime de chuvas são apenas alguns dos eventos climáticos percebidos por pessoas que dependem do meio ambiente para sobreviver e para exercitar sua cultura e costumes.
Os habitantes das Ilhas Carteret, juntamente com os moradores das Ilhas Taro, nas Ilhas Salomão, são “o rosto da mudança do clima” e os primeiros grupos de pessoas que se veem forçadas a migrar do seu local de origem exclusivamente pela busca por sobrevivência diante dos efeitos causados pelas mudança climáticas. Em regiões tão pequenas e com poucos outros recursos naturais, a adaptação a essas mudanças nem sempre é possível.  Os habitantes de pequenas ilhas como Carteret, Taro, Maldivas, Tuvalu e Kiribati convivem com a alta salinidade do solo, falta de água potável e, consequentemente, com a dificuldade de produzir alimentos.
Fora de casa - Ao migrarem para outro local, os refugiados do clima sofrem também a resistência das comunidades de destino e, com o tempo, podem perder total ou parcialmente suas características culturais, como por exemplo dialetos herdados dos seus antepassados. Caso a migração ocorra para fora do país de origem, o problema torna-se ainda maior, uma vez que os Estados nacionais têm restringido cada dia mais a admissão de estrangeiros em seus territórios, e os obstáculos para a efetiva integração dos imigrantes são sempre grandes desafios.
Mas não é apenas o avanço dos mares e oceanos que pode causar a migração forçada por motivos ambientais: refugiado do clima é toda e qualquer pessoa que se vê obrigada a migrar do seu local de origem por quaisquer motivos relacionados à mudança e variabilidade climáticas, sejam esses de início rápido (como ciclones, tornados, chuvas intensas que causam enchentes, tsunâmis, entre outros) ou de início lento (aumento gradativo da temperatura do planeta, desertificação, degelo de calotas polares, etc.). Somam-se aos efeitos climáticos também a interferência do homem no meio ambiente, que tende a aumentar o risco de que populações inteiras tenham que migrar para sobreviver, como nos casos de erosão do solo, derrubada de vegetação nativa, poluição e qualquer outra situação que cause desequilíbrio ecológico temporário ou permanente.
Prisioneiros das águas - Estimativas apontam que até 2050 o mundo terá entre 250 milhões e 1 bilhão de refugiados do clima, mas já há quem afirme que na primeira década do século XXI esse número mínimo já tinha sido ultrapassado em razão do aumento exponencial de desastres ambientais no mundo todo. Nesse cenário, Bangladesh, país localizado no Oceano Índico, com baixa altitude e que possui o maior delta do mundo em termos de vazão de água, pode, sozinho, produzir um número de refugiados do clima maior do que o mundo todo somado. Isso se deve principalmente ao fato de Bangladesh possuir alta densidade demográfica e alta taxa de natalidade num território que recebe água do oceano, dos rios que desembocam no seu delta (formado pela confluência de três grandes bacias hidrográficas) e do degelo dos Himalaias.
Assim como os habitantes de Carteret, os moradores de Bangladesh não têm muita opção no que diz respeito à permanência no seu território num futuro próximo. O que fazer então para que os refugiados do clima desses locais e do restante do mundo sejam ouvidos nos foros políticos internacionais e tenham seus direitos humanos preservados? Uma alternativa viável seria o estabelecimento de uma governança[1] migratória ambiental global que pudesse congregar normas jurídicas, instituições e atores já existentes nos planos interno dos Estados e que buscasse soluções pontuais para um problema urgente. Outro caminho seria a criação de uma agência internacional para cuidar especificamente dos interesses e das vulnerabilidades dos refugiados do clima.
A título de exemplo, órgãos operativos da Organização das Nações Unidas (ONU) como o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), a Organização para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) e outros têm aumentado consideravelmente sua atuação em prol dos refugiados do clima de acordo com o aumento da demanda em torno desse urgente tema global, apesar de nenhum deles ter mandato específico para cuidar do assunto.
Pessoas invisíveis, problemas reais - No plano jurídico, os refugiados do clima sequer existem. Segundo o direito internacional dos refugiados, consagrado na Convenção da ONU sobre o Estatuto dos Refugiados, de 1951, refugiados são pessoas que possuem fundado temor de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, pertencimento a grupo social e opiniões políticas, que não podem ou não querem voltar ao seu país de origem em razão desse temor. São os refugiados “convencionais”, posto que refugiados, nos termos da Convenção de 1951, são migrantes forçados (porque não escolheram migrar) e migrantes internacionais que cruzam fronteiras políticas entre Estados para poderem ser elegíveis à proteção conferida pelo direito dos refugiados e para serem protegidos pelo ACNUR.
A nomenclatura tem sido motivo de muito debate entre acadêmicos e políticos (principalmente de órgãos da ONU) sobre o uso das expressões “refugiados ambientais”, “refugiados do clima”, “refugiados da conservação”, “refugiados dos grandes projetos de desenvolvimento”, “deslocados ambientais”, “migrantes ambientalmente forçados”, entre outros, para dizer que refugiados somente podem ser chamados dessa forma quando a Convenção da ONU sobre Refugiados admite como tal – os chamados refugiados “convencionais”.
O problema é que, uma vez que uma nova categoria de refugiados surge, essas pessoas não possuem amparo da Convenção dos Refugiados e tampouco do ACNUR, órgão que presta assistência e proteção aos refugiados “convencionais”. O mesmo ocorre com os demais órgãos da ONU, agências especializadas e organismos internacionais fora do sistema das Nações Unidas.
Não se pode esquecer, entretanto, que, etimologicamente, “refugiadas” são pessoas que buscam abrigo e proteção fora da sua morada habitual e que, acima de tudo, é preciso superar o debate de que “refugiados do clima não são refugiados” e flexibilizar as normas jurídicas existentes para que possam ser aplicadas a esse grupo de pessoas, de forma a garantir o pleno exercício dos seus direitos humanos, especialmente com relação ao acesso à saúde, moradia, segurança, emprego, educação, etc.
Soluções urgentes para temas urgentes - Com a compreensão de que outras categorias de refugiados não contempladas pela Convenção da ONU existem, organizações não governamentais e associações da sociedade civil, locais e internacionais assumem um papel fundamental na proteção dos refugiados do clima e na prestação de ajuda humanitária diante de desastres ambientais, especialmente daqueles de início abrupto, como ciclones, tornados e enchentes, os quais tendem a causar grande impacto na população, na organização política, no sistema econômico e no próprio meio ambiente. Sem a atuação dessas instituições, tanto o tema das migrações quanto o tema ambiental dificilmente teriam tido a atenção e o alcance que hoje possuem no mundo.
As mudanças climáticas representam um desafio e também uma oportunidade para a comunidade internacional agir no nível político: a mudança e variabilidade climáticas que têm causado distúrbios visíveis no ecossistema global requerem que ações práticas e efetivas sejam tomadas de imediato:
- é preciso buscar soluções urgentes para temas urgentes, pois a grande maioria dos potenciais 1 bilhão de refugiados do clima não podem esperar intermináveis debates políticos, enquanto suas casas e vilas são diretamente afetadas pela mudança do clima;
- é preciso pôr em funcionamento uma governança migratória-ambiental global com mecanismos e instituições existentes que tenham boa vontade para ampliar seus mandatos e tarefas;
- é preciso que os mecanismos de adaptação, frente às mudanças do clima, sejam efetivados e amparados por organizações da sociedade civil e pelos governos locais;
- é preciso agir antes que as vítimas das mudanças climáticas, que muitas vezes não contribuíram para o destino que enfrentam, sejam amparadas na totalidade; antes que elas sejam os exemplos recorrentes de como toda a humanidade pode sucumbir diante das suas próprias práticas insustentáveis e que desconsideram os ciclos milenares da natureza.
O nascer do sol, que dá título ao documentário sobre os habitantes de Carteret, representa uma esperança de que os refugiados do clima terão suas vozes ouvidas e suas demandas respondidas pela comunidade internacional. Mas é preciso agir antes que seja tarde demais e que o sol não deixe de nascer diariamente para essas pessoas. 


[1] Governança é definida pela Comissão da ONU sobre Governança Global como “a soma das várias maneiras pelas quais os indivíduos e as instituições, públicas ou privadas, geram seus assuntos comuns. Trata-se de um processo contínuo por meio do qual se concilia e se age sobre interesses distintos ou conflituosos” (1995, p. 02).

domingo, 2 de novembro de 2014

Testemunho de um pai

Papá a la distancia: mis hijos viven en otro país

http://www.clarin.com/sociedad/Papa-distancia-hijos-viven-pais_0_1240676122.html



Mundos íntimos.
Añoranzas y juegos virtuales. Como si fuera una profecía, el padre del autor vivió en España cuando él era chico y ese dolor de ausencia aún lo recuerda. Hoy sus propios hijos residen en Chile. Aunque más cerca, también debió aprender que las caricias y el estar sentados a la misma mesa son momentos esporádicos. Así se genera una paternidad diferente que con creatividad intenta vencer la lejanía.

 
 Gonzalo Garcés. Escritor.

Dicen que el lazo de un padre con sus hijos es más cerebral, menos físico que con la madre. Tonterías. Desde que eran chicos llevé a mis hijos en mochilas, en brazos, sobre los hombros. Los tiré al aire para volver a atajarlos, les limpié el culo hasta que su caca dejó de darme asco. Simulé caer desmayado sobre ellos para que tuvieran el júbilo de zafarse. Les acaricié el pelo hasta que se me durmió la mano. Sentir el olor del pelo de mis hijos a la mañana, cuando andan con los ojos achinados por el sueño, es el indicador más poderoso que conozco de que en el universo hay un orden.

 
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Por eso es tan difícil tenerlos lejos. Por supuesto, muchas veces me pregunto si había opción. Las peripecias que nos llevaron a vivir en países diferentes ahora me parecen increíbles. ¿Lo más raro? Mi padre también vive en otro país; yo también crecí con un padre a distancia. Esto me hace pensar que existe en alguna parte un demiurgo aficionado a las simetrías y que uno vive para cumplir sus caprichos.

Esta historia de simetrías empieza en 1970. Aquel año mi padre recibió su titulo de arquitecto en Valparaíso y se expatrió para vivir en Buenos Aires, donde conoció a la que iba a ser mi madre. Diez años después, divorciado y sin chance de ejercer su profesión en la Argentina de la dictadura, volvió a tomar un avión, esta vez a Madrid. Con el tiempo, como tantos expatriados, volvió a su país natal. Yo crecí con mi madre en Buenos Aires y nunca me sentí otra cosa que argentino.

En 2010 yo, a mi vez, me separé de la madre de mis hijos y también me mudé de país. Las circunstancias son distintas, los pormenores serían largos de explicar, pero el resultado es que ahora mis dos hijos viven en un país diferente del mío. Para completar el círculo, el país donde viven es justo el que mi padre dejó hace más de cuarenta años y al que terminó por volver: Chile.

¿Cómo se vive cuando tus hijos viven en otro país? Tus hijos y también tu padre. A veces me siento apenas un blip, una anomalía en una familia de chilenos. Otras me parece que esto sólo puede ser provisorio y que tarde o temprano todos viviremos en Buenos Aires. Mientras tanto, hay que vivir de alguna forma. Ser una familia con los recursos que hay a mano, lo cual significa, la mayor parte del tiempo, una pantalla de Skype.

Por supuesto, yo no busqué esta situación, aunque a veces parezca que el demiurgo amante de las simetrías, en algún sentido, es uno mismo. Yo también, como mi padre, quise probar la vida de expatriado. Cuando tenía veinte años me fui a estudiar a París. Allá empecé a publicar libros y por un tiempo estuve convencido de que iba a quedarme en Francia. Uno suele moldear su filosofía de acuerdo con sus circunstancias; yo era un argentino, hijo de una argentina y un chileno, y vivía en el primer piso de un edificio moderno en Montmartre, así que me resultaba cómodo ser internacionalista. Pensaba que da lo mismo el lugar donde uno viva y que la patria son las personas que tiene a su lado. En la facultad había conocido a una francesa, con la que me casé; en 2003 nació mi primer hijo, G. Más tarde nos mudamos a España y tuvimos a M., nuestro hijo menor. Yo me consideraba un argentino portátil y me parecía natural haber engendrado argentinos portátiles; donde yo viviera, vivirían mis hijos. En retrospectiva la lógica de esto resulta precaria, pero a mí me convencía.

También mi padre empezó su periplo con optimismo. En 1970, cuando llegó a Ezeiza, le pidió al taxista que lo llevara a Corrientes 348. Había crecido escuchando tango y quería que su primer destino en la capital argentina fuera Corrientes tres cuatro ocho, segundo piso ascensor, no hay porteros ni vecinos, adentro cocktail y amor. Conoció a mi madre en el café Politeama. También él sentía que podía vivir en cualquier parte, y hasta ser de cualquier parte. Las cartas que escribió por esa época están llenas de “vos pensás”, de “los milicos”, de “no hay guita”. Vivieron unos años a caballo entre Argentina y España. Se separaron y volvieron a juntar varias veces. Al final mi padre encontró una salida a su crónica precariedad laboral trabajando en Madrid. Durante la década siguiente, en sociedad con su segunda mujer, construyó edificios importantes. Recuerdo la primera vez que recibí por correo un regalo de mi padre: era un disfraz de Don Quijote, con pechera de plástico y el yelmo de Mambrino. Debe haber sido en 1979. Con esto empezó nuestra relación a distancia.

Yo tenía en Buenos Aires un padrastro que me quería y me cuidaba muy bien. Sin embargo, cada vez que cortaba después de hablar por teléfono con mi padre, cada vez que él se iba después de una visita a Buenos Aires, cada vez que terminaban las vacaciones en Madrid y yo tenía que volver, el dolor era desquiciante. Es bastante misterioso ese lazo. Viene antes de la conciencia y no depende de los altos o bajos de la relación. Además, tener a tu padre lejos engendra un mundo. Tu padre es ese mundo. Cuando tu padre vive en tu casa, es una persona de carne y hueso: monumental, sin duda, titánico a veces, pero de contorno humano. Pero en mi caso mi padre estaba hecho en gran parte de añoranza y la añoranza no tiene contornos. Era un océano, un continente. Europa era mi viejo. América también. El pasado con todas sus guerras y sus mapamundis y sus catedrales y sus ejércitos era mi viejo. Y todo lo que pudiera ponerse en palabras y relatarse. Hay que imaginar lo que significa buscar en todas esas cosas al padre de uno, seguir buscándolo hasta ahora.

En 2006, cuando mi relación con mi mujer entró en tiempo de descuento, empecé a tener miedo de convertirme yo también para mis hijos en algo parecido a esa vaga enormidad. Esa perniciosa enormidad. Porque no es bueno confundir a tu padre con el universo. El círculo del demiurgo empezaba a cerrarse: nos mudamos a Chile, donde yo iba a dar clases en la universidad. Para entonces mi padre ya se había repatriado. En 2010 mi mujer y yo nos separamos; en una última acrobacia internacional, ella se fue con los chicos a Francia, mientras yo, que quería estar cerca de ellos pero en un lugar donde pudiera trabajar, me arrastraba hasta Barcelona. Un día me llamó y, un poco compungida, me dijo que quería volver a Chile con los chicos, ya que había empezado una relación con un santiaguino, aunque esperaba que eso no significara poner al Atlántico entre ellos y yo. No tuve inconveniente, ya que por mi parte había empezado una relación con una argentina, y aunque no hubiera sido así, había entendido que, como escritor que escribía en porteño, mi lugar natural para vivir y trabajar era Buenos Aires.

Santiago queda a una hora y media de vuelo de Buenos Aires. Es mejor que estar separado de mis hijos por el Atlántico, pero está lejos de ser perfecto. Por supuesto, extraño todos los días a G. y M.

Ya lo dije: extraño su olor, su contacto, jugar a lo bruto. Hay que decirlo, muchos de los juegos que forjan el lazo de amor incondicional entre un padre y un hijo remedan la violencia. Es una aparente paradoja que las madres y las maestras de escuela, como es natural, suelen tener dificultades para comprender. G. nunca se cansa de pedirme que le haga “el interrogatorio de la plata”. Es una escena famosa de la película El gran Lebowski. Hago como que agarro a G. por los pelos de la nuca y simulo hundirle la cabeza en un inodoro imaginario, como lo hacen los agresores de Jeff Bridges en la película, mientras le pregunto con falso acento alemán: ¿Dónde está el dinero, Lebowski? El disfrute de G no tiene límite. M., por su parte, prefiere un juego más afín a los métodos de tortura en la Hungría de los Habsburgo. Le aplico lo que llamamos “la jaula de carne”: lo envuelvo con mi cuerpo y lo retengo por todos los ángulos mientras él lucha por escapar. Antes estos juegos eran diarios; ahora tenemos que conformarnos con las vacaciones y con mis viajes a Chile.

¿Y el resto del tiempo? Tenemos Skype, tenemos FaceTime. Recursos que no existían cuando yo era chico y mi padre, para hablar conmigo, tenía que hacer una llamada internacional a un precio prohibitivo. Esto significa también que nos perdemos algunas cosas en verdad extraordinarias de mi relación a distancia con mi padre. Yo no les mando, por ejemplo, las cartas magníficas que él me mandaba, con recortes de revistas o libros o fascículos sobre el mundo del futuro o el hombre primitivo. Fascículos, de paso, que a mi madre la indignaban, porque en uno aparecía una ilustración truculenta de un hombre de Cromagnon con un brazo cortado. Pero a mí me gustaban. Como años más tarde me gustó (y me perturbó) una viñeta que mi padre había fotocopiado de la revista española Rambla. Una mujer desnuda, entre sábanas arrugadas, decía: “Tú no has tenido fe.” Un globito indicaba que otra voz le respondía: “Quizá no me he concentrado lo suficiente. Probemos de nuevo.” Yo tenía catorce años. Sobre pocas cosas he especulado tanto como sobre ese fragmento de diálogo. Mi padre, en este aspecto reflejo fiel de su generación, pensaba que era parte de sus deberes ofrecer una educación en cuestiones de sexo. Ya dije que su persona concentraba para mí las cualidades de un mundo vasto, fascinante, rico en misterios, y sobre todo desconocido.

A cambio de renunciar a parte de esos encantos, los medios que usamos mis hijos y yo nos permiten una semblanza de vida cotidiana, de humana rutina. Creo
que se equivocan los padres separados que, con las mejores intenciones, se esfuerzan demasiado en preguntarles qué han hecho, cómo les fue en el colegio, qué hicieron con sus amigos. No siempre se tienen cosas interesantes que contar y un hijo nunca debería sentir que debe tenerlas para interesar a su padre. Un hijo no es Sherezade. Algunos de los mejores ratos que Skype nos permite ni siquiera necesitaron charla: por ejemplo, el campeonato de batalla naval que G. terminó por ganarme.

Lo mejor han sido momentos de silencioso estar juntos a través de esa pantalla. Yo, en Buenos Aires, escribía una nota para un diario. En Santiago, M. construía una ciudad con Lego mientras G. miraba un video de Vegetta. De vez en cuando levantábamos la vista y nos chistábamos o nos hacíamos una mueca. Me falta el olor de su pelo. Pero es un mundo que compartimos, y tiene contornos definidos, y es nuestro.